Blog do Leo Ferretti
quarta-feira, novembro 12, 2003
  A Visita do Paulo Malária
Num domingo interfonaram dizendo que era o Paulo... - Leo, o Paulo está subindo... E eu que-dormia-pulei-da-cama pensando quem seria esse Paulo? Tinha um cara que eu nunca tinha visto mais gordo do outro lado da porta, careca, cabelos brancos, segurando um CD em frente a porta.

Tinha me aproximado da porta pé-ante-pé assim que a campainha começou a tocar. Suspense. Silêncio. Sei lá se era alguém empurrando CD do padre Rossi? O casal desistiu e tomou o elevador, só para o porteiro interfonar de novo, quando o próprio coroa disse que era o MALÁRIA e que tinha que ir embora.

É o Paulo Malária da banda Acidente, Bia. Autor daqueles discos de rock brasileiro que curto tanto. Bom desci rápido para autografar os vinis, e ganhei de presente dois CDs do Pau de Sebo, a banda alternativa dele. Ele veio com a esposa para nos presentear, e contei que você vai nascer em março, dia 04, aniversário da esposa dele também. Pediu que desse uma força visitando o site acima. Lá tem as musicas do Pau de Sebo (mais rock) e do Technology (instrumental), divirta-se.
 
  A Promessa
Pois é minha gatinha Beatriz, no sábado a mamãe teve um sangramento e quando contou para o papai só deu para pedir a Deus que te protegesse, pois esse tipo de coisa acontece com algumas grávidas.

Depois do pânico inicial prometi que subiria a escadaria da Igreja da Penha de joelhos, o que já fiz uma vez. É que daquela vez tinha prometido subir para a Val passar no vestibular de Odontologia... e tinha funcionado.

Pois é, o seu pai acredita em Deus. Porém sempre achei que não se deve pedir para Deus uma graça para si próprio já que sempre tem alguém precisando mais do que você. Tenho fé que vai dar tudo certo, pois sua mãe já está melhor.
 
quarta-feira, novembro 05, 2003
 
Carta escrita por Eunice, em taquigrafia, depois que Valéria nasceu, em 3.4.76.
Minha querida filha Valéria:

Resolvi escrever esta história de sua vida, com medo de mais tarde não lembrar de alguns detalhes desta
história tão bonita de sua chegada para mim. Sei que um dia você gostará de saber de tudo e assim fica
mais fácil você ler o que se passou, escrito na própria época.

Eu não me casei por diversas circunstâncias, mas sempre desejei ter um filho ou uma filha a quem eu pudesse dar o meu amor e que preenchesse a minha vida, que me parecia tão fútil e vazia. Há muitos anos sonhava adotar uma criança, mas por uma razão ou outra, esperando o momento e a oportunidade, fui adiando o projeto até que um dia resolvi que não tinha mais que adíar e comecei a procurar desesperadamente por você.

Pedi a diversas pessoas que me ajudassem: pedi em Brasilia, onde Tarcila morava e pedi ao Ivã, médico
em São José dos Campos. Pedi à tia da Carnen, Angélica, médica em Florianópolis, enfim em vários lugares. No ano de 1976, Teresa, filha da Marila foi para o projeto Rondon e de lá me escreveu a seglunte carta: " 23.1.76. Tia, vamos ao assunto. Está mesmo dispostas a se tornar mãe: Já falei com O pessoal daqui (autoridades) e parece que não haveria problema algum. Hoje estive falando com a enfermeira chefe do Hospital e ela esteve me dizendo que é relativamente fácil levar uma criança daqui, pois volta e meia as crianças são abandonadas. Pense bem nisto, vou dar um tempo para esta carta chegar e ficarei aguardando sua resposta urgentemente. Fale com a mãe para para perguntar à Gláucia se não interessaria a ela. Seria uma obra ínestimável de vocês, pois as condições de vida destas crianças aqui são subhumanas. Pense bem tia, não tome nenhuma atitude precipitada, viu? Pense em todos os problemas que uma criança viria acarretar, mas pense também no bem que a senhora iria fazer. Aguardo sua resposta.".

Um dia, Teresa telefonou dizendo que havia uma criança em Quixadá e que ela traria para mim. Você não pode inlaginar a minha excitação. Fiquei em polvorosa. Mamãe não queria, dizendo que traria problemas para mim.
Papai nem queria saber de nada. Chorei, dizendo que eu tinha direito também a um pouco de felicidade,
representada por essa criança. Qual não foi minha decepção quando Teresa voltou e não me trouxe a
criança. Teresa deixou dito no Hospital que a próxima criança seria para ela. Enfim, decidi não parar de tentar e fui passar o Carnaval em São Francisco (Sta.Catarina) e lá pedi para toda a família São Thiago.

Voltei para trabalhar na 5ª feira depois do Carnaval. Um dia depois, na 6ª feira, mais ou menos às 13 hs., Marila me telefonou dizendo que haviam telefonado de Quixadá para Teresa, dizendo que havia lá uma criança para mim. Fiquei toda feliz e sem querer dizer nada no trabalho. Não podia mais pensar em outra coisa. Teresa ainda estava vindo de carro, de Niterói para o Rio. Assim que ela chegou, falou comigo pelo telefone e combinamos que ela deveria ir para minha casa, na Rua Satamini, para tratarmos de tudo.

Mamãe não estava no Rio. Estava em Brasília, porque Adriana tinha nascido. Teresa foi para minha casa
e de lá telefonou para Quixadá, para o Hospital, para saber se era verdade. Sim, você estava lá esperando
por mim. Passei procuração para a Teresa e comprei passagem de avião para ela. Teresa telefonou para o
Juiz, Dr. Pompeu e o Prefeito, que eram amigos da Teresa. Por fim, Teresa viajou e cheia de recomendações minhas telefonou de lá, logo depois de ter visto você no Berçário. Disse que você era feia. Eu havia recomendado que só trouxesse se você fosse bonita, mas naquela altura eu queira de qualquer jeito. O seu nome foi escolhido por mim. Teresa resolveu tudo em horas e juntamente com uma enfermeira foi de ônibus, de Quixadá para Fortaleza, onde passou a noite no Hotel. De lá, no dia segjinte, sábado, dia 13/3, viajou sozinha com você, de avião, para o Rio. Você tinha 9 dias, pois havia nascido no dia 4 de março. Tia Iovanda e eu fomos esperar você no Aeroporto (Terminal Doméstico) do Galeão. Fazia um calor terrível. Nessa altura, o papai já sabia e disse que era uma loucura minha. Chorei mais uma vez e fui em frente. No Aeroporto, eu esperava, ansiosamente por Teresa e Você. Como seria sua saúde?

Eu estava tão nervosa que nem ouvi quando o alto-falante anunciou que seu vôo tinha chegado. De repente, vejo Teresa chegando com o Moisés (que havia levado) e você magrinha, que parecia um ratinho ali deitada. Beijamos Teresa e ela me entregou você. Minha filha, não posso descrever a emoção que se apossou de
mim. Olhei para você e eu chorava que não podia mais. Botei o Moisés no chão e ali ficamos tia Iovanda,
Teresa e eu olhando para você e chorando como bobas. Todo mundo no Aeroporto olhava para a gente e
ninguém entendia nada. Afinal reagimos e resolvemos ir embora para casa. Fazia um calor de 38° mais ou
menos. Cheguei no carro e tirei sua roupa, dei água e comecei a namorar você. Você só tinha olhos imensos, uma boca rasgada até a orelha e pesava somente 2,600 kg. Não achei você feia, mas achei que fosse morrer .

Logo que cheguei em casa, a vizinha chamou o pediatra do filho dela, o Dr. Naylor de Oliveira, para mim. Minha casa estava cheia de gente. Tia Marila, tio Bino, tia Iovanda, tio Nando e Nilcemar, Marcinha, Alexandre, Francis, Ana Lúcia e Swami, Guilherme e Teresa. Todos riam de mim e eu dando banho em você toda atrapalhada. Depois, fervi a mamadeira de plástico que derreteu toda. Afinal, chegou o Dr. Naylor. Ele viu você se apaixonou e eu me apaixonei por ele, um amor de pessoa. Disse que você não era fraca, mas que precisava de carinho e leite. Você veio com sapinho na boca e feridas na cabeça. Quase careca. Naquela noite, a Marcinha ficou comigo e você dormiu no carrinho e a mamadeira você só tomou com conta-gotas. Não tinha força para mamar. Telefonei para mamãe em Brasilia e só soube chorar de tão nervosa. Pedi a mamãe que amasse você como eu já a amava. Passei o domingo todo com você e fui para Niterói ficar com a Marila, para eu poder ir trabalhar. Lá, ficamos até mamãe voltar de Brasilia.
Quando ela veio, você já estava melhor e fomos todos para casa dela no Rio. Resolvi entrar e papai não
falou nada. Estávamos em Reunião na ITAIPU e Mamãe ficou com você em casa e disse que papai só
olhava e não dizia nada. Chegou perto e disse que até que você não era feia. Quando nós fomos para nossa
casa, eu levava você todos os dias para mamãe cuidar. Você nunca foi chorona. Sempre dormia bem à noite e comia bem. Nicemar e Nando me emprestaram a cama da Marcinha. Márcia trouxe todos os brinquedos dela. Com um mês você já tinha engordado bastante. Com 4 meses, em agosto, eu fui com você a Brasília e lá você balbuciou pela 1ª vez "mamã". Fiquei feliz da vida. Em Brasília você adoeceu com Rubeola. Fiquei apavorada sem saber o que fazer e voltei porque você tinha febre. Chegando aqui constatei que era Rubeola. As manchas começaram no pé e foram subindo. Passou logo. Só tomou água, conforme Dr. Naylor mandou e em 4 dias você estava boa Com 6 meses saiu o 1° dentinho. Quem viu foi tia Iovanda. Tia Iovanda ficou louca por você. Você sempre ria, sempre foi uma criança alegre e risonha,
comprando todo mundo pela simpatia. O pessoal da ITAIPU ficou muito impressionado com a situação,
me elegeram a mãe do ano, dando uma faixa de papel higiênico, e logo se encarinharam com você.
Oh, Valéria, você não imagina o que você representa para mim, em termos de felicidade. É algo que não
se pode medir. Eu esperava gostar e ser feliz com você, mas nunca me passou pela cabeça que eu poderia
ser tão feliz assim. É imenso, enorme o amor que sinto por você. Que Deus dê a você pelo menos a metade
da felicidade que você me trouxe.
 
Para a minha filha: Beatriz.

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