Blog do Leo Ferretti
terça-feira, setembro 20, 2005
  O enigma de Cortez
Oconquistador Hernan Cortez em sua segunda carta a Carlos V, imperador do Sacro Império Romano, que era também Carlos I, rei de Espanha, descobre a caminho da capital asteca a cidade de Tlaxcallan: “É tão grande, muito maior do que Granada. Bons edifícios, muita gente e mais bem abastecida que Granada. Tem pão, legumes, aves, pescado, caça e um mercado ao qual chegam cotidianamente mais de 30 mil almas vendendo e comprando. Ali há de tudo: vestidos, calçados, comidas, jóias de ouro e prata, pedras preciosas tão elaboradas que podem ser expostas em qualquer lugar do mundo. Há casas onde lavam a cabeça e as raspam, como em barbearias.” Cortez atinge finalmente a formidável cidade de Tenochtitlan, com seus canais navegáveis, seus templos fabulosos e seus mercados. “Procurarei dar um relato das maravilhas e estranhezas desta grande cidade. Está edificada sobre um lago. É tão grande quanto Sevilha e Córdoba. Tem praças, onde há mercados, pontos de compra e venda. Há uma praça tão grande que corresponde a duas vezes a cidade de Salamanca, com pórticos de entrada, aonde diariamente vão mais de 60 mil almas para vender e comprar. Há todos os gêneros de mercadoria, desde jóias de ouro, prata e cobre até pombos, papagaios e galinhas. Há casas como de boticários, onde se vendem medicamentos, ungüentos e emplastros. Há casas onde dão de comer e beber mediante pagamento. Há homens para carregar cargas, como os que chamamos “ganha-pão” em Castela. Há à venda lenha, carvão e esteiras para camas diversas. Há verduras de toda espécie, mel de abelha, fios de algodão para tecer, couro de veado, tintas para pintar tecidos e couro, louças de muito boa qualidade, milho em grão e pão de excelente sabor. Há no centro da praça uma casa de audiência onde estão sempre reunidos dez ou 12 juízes para julgar questões decorrentes de desacertos nas compras e vendas, como também para mandar castigar os que cometem atos de delinqüência. Nos mercados e nas praças, há muitos especialistas de determinados ofícios que ficam à espera de quem os venha contratar por jornada. As pessoas andam bem vestidas, com boas maneiras, quase da mesma forma como se vive na Espanha. Considerando ser essa gente bárbara e tão apartada do conhecimento de Deus, como têm todas essas coisas?” Esse é o enigma de Cortez. Há 500 anos, os astecas arrancavam corações em peitos vivos, mas produziam também enorme riqueza, além de impostos colossais cobrados aos vizinhos. Há várias teorias para explicar como um exército com 400 homens, 16 cavalos, 32 escopetas e quatro canhões destruiu uma civilização. Fatores geográficos e biológicos (“Armas, germes e aço”, de Jared Diamond, 1999). A superioridade estratégica (leu em latim “César: a conquista da Gália” (Handford, 1951), explorando magistralmente rivalidades locais) e a coragem do conquistador (“Cortez e a queda do império asteca”, Jon White, 1971). Finalmente, a disciplina dos ocidentais, desde as falanges gregas (“Carnificina e cultura”, Davis Hanson, 2001). Mas a resposta ao paradoxo de Cortez está em seus próprios relatos, que apontam o funcionamento vigoroso dos mercados, produtos evolucionários universais como a linguagem e os costumes.
 
quinta-feira, setembro 08, 2005
  O povo iraquiano deve ser respeitado.
O povo não é algo abstrato quanto convenientemente pensam marxistóides. O "povo", a "sociedade" sou eu, você, assim como cada iraquiano, e acreditem, à despeito do que possam dizer, sobre o que o povo quer ou precisa, antropólogos de plantão patrocinados por cátedras estatais vomitadoras do relativismo cultural, nossos interesses são basicamente os mesmos de outro indivíduo qualquer de qualquer lugar, aumentar a própria satisfação e reduzir o desconforto, mudam apenas os meios utilizados, e consequentemente o grau de sucesso obtido por cada um.

Conheça qualquer pessoa em qualquer outro lugar e vai ter a grata surpresa de reconhecer os mesmos anseios e preocupações básicas que a sua, pois apesar do que os Estados e seus especialistas em relacionais internacionais digam, somos todos seres humanos. Essa trupe de parasitas, alguns bem intencionados e a maioria inocente útil, é que põe lentes de aumento em nossas diferenças em benefício próprio, supostamente para nos defender de nós mesmos, mas na verdade para se defenderem dos outros parasitas que contam a mesma história para os "estrangeiros". De boas intenções dessa turma o inferno está cheio, são um "mal necessário" na melhor das hipóteses.

Democracia no Iraque? Ótimo, mas só acredito quando for do interesse da maioria dos iraquianos (e isso só as urnas vão dizer). Tenho curiosidade sobre o tipo de "democracia" proveniente de uma maioria Xiita (creio que teremos boas surpresas). Ou do respeito que o Governo dos EUA tenha por uma democracia que desafie seus interesses, o que certamente seria o caso.

Abraço do Leo Ferretti
 
sábado, setembro 03, 2005
  Remember me this way (Uma história rock'n'roll)
Estamos abrindo o Gary Glitter br...ian Fan Club em homenagem ao maior rockeiro de todos os tempos. Venderemos franquias para pessoas empreendedoras, dinâmicas, dispostas a faturar o máximo possível com a onda jovem do rock'n'roll. Porém, antes é preciso pesquisar para saber se já não houve outro fan club homônimo nos idos do mágico ano de 1973, quando o ídolo lançou seus maiores sucessos.
Durante reunião no club, os fans discutem:
- Temos que trazer Gary Glitter ao br...il para tocar seu rock inigualável!
- Ele desapareceu, ningém sabe onde se encontra. E se estiver num cárcere tailandês?
- Então vamos todos à Tailândia resgatar nosso ídolo maior!
A caravana de incontáveis aviões singra os céus rumo à longínqua Asia. Chegando lá, os funcionários da immigration não dão conta do serviço:
- Nunca vimos tantos br...eiros por aqui.
- É mesmo... por que será...
Nas ruas, descobrimos que a Tailândia é uma cidade triste, seu povo é acabrunhado, não se escuta os acordes maviosos do rock'n'roll. O sultão proibiu essa onda jovem, deram sumiço em todos os rockeiros.
- Hey, nativo, onde fica a cadeia?
- That way! (Os tailandeses não falam p'ghese.)
Atingimos os muros do lúgubre presídio.
- Vejam, os guardas daqui não usam armas!
- Não precisam. Eles lutam box tailandês, a luta mais mortal. Ninguém pode vencê-los.
- Nós temos o rock'n'roll, que é a força mais poderosa do universo. Vamos enfrentá-los!
Os golpes de muai thai são inúteis perante a fúria rockeira. Entramos na sinistra prisão e começamos a libertar os presos. Para nossa surpresa são todos rockeiros, que pegam suas guitarras e começam a tocar os maiores sucessos de Gary Glitter. Informam que o ídolo maior está amarrado, amordaçado e algemado numa masmorra infecta escavada no porão, tendo somente água podre para beber e minhocas, lesmas e outros insetos como alimento. Derrotando centenas de guardas com a força do rock'n'roll, conseguimos entrar lá e libertá-lo.
- Venha Gary, agora você é um homem livre!
Gary Glitter imediatamente pega uma guitarra e começa a tocar seus maiores sucessos.
- Vamos, não temos tempo a perder! O sultão mandou fechar o aeroporto!
Quando chegamos lá, o último avião está taxiando na pista. Fazemos uma barreira humana:
- Parem este avião! Deixem-nos entrar! Em O nome do rock'n'roll!
Entramos na aeronave e somos recebidos com festa por tripulantes e passageiros, que pegam suas guitarras e começam a tocar os maiores sucessos de Gary Glitter.
- Para onde vamos? - pergunta o piloto.
- Vamos para o distante br...il! Lá não é crime ser rockeiro!
Ao pousarmos no Galeão, o aeroporto já foi rebatizado Tom Jobim - Gary Glitter. A governadora e o prefeito, de mãos dadas, olhos nos olhos, oferecem uma corbeille de flores ao ídolo:
- A partir de hoje você é hóspede permanente da suite presidencial do Copacabana Palace. Viverá como um nababo, tudo bancado pelos cofres públicos.
No trajeto pela Linha Vermelha, os favelados fecham as pistas, mas não para saquear. Pela 1a. vez, os comandos rivais se unem numa grande festa pela chegada de Gary Glitter. A Avenida Atlântica está tomada por milhões de rockeiros, como se fosse reveillon. Gary chega ao Copa, toma posse da suite presidencial, corre para a sacada, pega uma guitarra e começa a tocar seus maiores sucessos. A multidão na praia delira, todos cantam em uníssono.
- Hello Rio! Eu tenho uma surpresa para vocês! Como vocês adoram minhas canções do mágico ano de 1973, vou fazer com que todos voltem a ser como eram no mágico ano de 1973!
Gary estala os dedos e todos voltam a ser jovens. A Rádio Mundial volta ao ar e toca seus maiores sucessos. Big Boy conclama a massa rockeira para o Baile da Pesada na sede do Botafogo. Que momento magnífico!
Chega porém um estafeta, afobado qual Paulo Bregaro:
- Mr. Glitter terá que pegar o próximo vôo para London. A Rainha o espera para entregar-lhe a coroa e as chaves de Buckingham.
A decepção é geral. A multidão cai num pranto compulsivo.
Enquanto o ídolo maior faz as malas, recebe um telefonema de Lula:
- Eu não tenho coroa pra te dar e meu paláfio é de temporada. Já tão querendo até me defpejar antes da hora... Mas fou precidente do bracil e por ifo pofo te entregar a Amassônia, antes que algum aventureiro lanfe mão. Fafa bom proveito!
- Grande presente, diz Gary. Para retribuir, vou fazer com a Amazônia volte a ser como era no mágico ano de 1973.
No mesmo instante o capinzal volta a ser floresta, somem os madeireiros, os índios trocam seus tomahawks por guitarras e começam a tocar alegremente os maiores sucessos de Gary Glitter.
Agora só falta você, pessoa empreendedora e dinâmica, comprar sua franquia do Gary Glitter br...ian Fan Club e faturar o máximo possível com a onda jovem do rock'n'roll.
 
Para a minha filha: Beatriz.

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